O fim do chavismo e renascimento da democracia econômica regional

A guerra contra a Venezuela que está ocorrendo, patrocinada substancialmente pelos Estados Unidos e países da Europa, claramente está relacionada com as transformações econômicas nos tempos de globalização e mudanças de status de nações que estiveram no centro do poder financeiro e produtivo mundial. Não é possível que haja eternamente imperialismo sem alternância neste comando. A vitória do conservador e ultraliberal Donald Trump e Brexit no Reino Unido pode indicar o início de implosão da ordem política centralizada global.

A Venezuela é um país no centro de disputa regional, que não começa nestes dias. Basta ver a história de ascensão de Hugo Chávez na presidência, depois de sucessivas crises e autoritarismo de governos anteriores e alinhados, principalmente aos Estados Unidos. Nesta empreitada de fazer oposição sistemática à terra do Tio Sam surgiu, uma espécie de partido regional, o chavismo, ao lado de Equador, Bolívia, Cuba e Brasil, Uruguai e Argentina que formaram o grupo antípoda ao modelo econômico internacional, a exemplo do conhecido consenso de Washington, com proposta neoliberais para economias com prioridade extrema ao mercado, e redução do Estado do bem-estar social.

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Imagem Folha Boa Vista – Grupos de pessoas liderados pela oposição ao chavismo de Nicolás Maduro, enfrenta o exército na ruas, na tentativa de fazer entrar ajuda humanitária enviada pelos Estados Unidos que apoiam o autoproclamada presidente do país, Juan Guaidó.

Por sua vez os centros econômicos passam então a aumentar as amarras com nações amigas na América Latina, como Colômbia, Chile, Peru. Considerando que os governos colombianos permitiram estratégica entrada externa na América Latina, quando estabelece a sua própria guerra com os guerrilheiros das Farcs, os quais não reconhecem o governo central do país. O vizinho Chávez tratou de usar os problemas colombianos para se aproximar dos grupos rebeldes de esquerda na tentativa de desestabilizar o oponente e seu aliado. A Amazônica tornou-se local de disputas entre Estados e guerrilha, com influência indireta da Venezuela.

Como os brasileiros notaram houve mudanças importantes regional nos últimos anos, com impeachment de Dilma Rousseff – em razão de pedaladas fiscais – a prisão do ex-presidente Lula com agilidade da justiça brasileira, Cristina Kirchner não consegue fazer seu sucessor na Argentina, Rafael Correa do Equador, ainda que tenha contribuído para a eleição do novo presidente, hoje está na oposição, vivendo fora do seu país, respondendo a denúncias internamente. Em Cena, Maurício Macri na Argentina, Bolsonaro no Brasil. Na Colômbia o conservador Álvaro Uribe continua dando as cartas na política. Mantém-se no poder, como remanescentes da política dita de esquerda está Evo Morales na Bolívia e a família Castro na liderança de Cuba, quietos, porém rebeldes à política externa.

O chavismo se transformou num personagem emblemático na América Latina, auxiliando Cristina Kirchner na Argentina, Cuba e em disputa com os colombianos apoiados pelos Estados Unidos. Estes tentam construir uma porta para defender seu território, que afirma ser de seu domínio, em meio a governos regionais rebeldes, liderados pelo chavismo. No entanto, sua empreitada nos últimos anos foi eficiente, como se nota. Porém, na Venezuela, segue a herança política de Hugo Chávez, com Nicolás Maduro, que enfrenta a guerra esperada.  Outros jogadores ganham musculatura e se associam na oposição, como é o caso da China que começa a dar as cartas na política e economia na América Latina e outras regiões globais. Como efeito, a deposição de Maduro tornou-se urgente, considerando o jogo que se estabelece num mundo globalizado.

Alguns países ganham muito espaço nestas disputas globais. Além da China, a Rússia ressuscitou dos tempos comunistas, usando o que melhor possui, o forte arsenal de equipamentos para a guerra, desempenhando uma rivalidade tensa com os Estados Unidos, considerado, efetivamente, como a única potência mundial, mas que recebendo sinais de perdas de força, diante de um capitalismo interno com problemas. A tecnologia do país de Donald Trump está sendo superada pela China, que faz frente à potência mundial. Para completar este cenário as forças europeias passam por problemas graves internamente, quando sobrou muitos pobres vivendo nas antigas colônias sem ter o que comer, e em meio a guerras sucessivas. Entendem que precisam de lugar no velho mundo, sua antiga metrópole, que, por sua vez, fecha às portas.

Nesta trama que se pode analisar a fome na Venezuela, fazendo valer o autoritarismo do governo, mantendo-se no governo com braço de ferro contra os adversários externos. Por isso,  isolada economicamente pelos países centrais, principalmente, pelos Estados Unidos, mantendo-se na defesa do seu território que sempre chamou de seu, a América Latina. Pelo que parece, diante deste quadro, os venezuelanos na sua maioria sabe que a oposição ao chavismo não está pensando em democracia, mas defendendo interesses de grupos que deverão receber um bom quinhão na exploração internacional de petróleo, no país com a maior reserva do mundo. A democracia, se vier a reboque da ajuda humanitária com deposição de Nicolás Maduro, melhor.

Ajuda humanitária e democracia podem não ser os termos corretos para definir a realidade da explosão que se montou na Venezuela chavista, mas no final é guerra internacional pelo poder. O pior mesmo é ter a consciência de que o Brasil está mais próximo dos venezuelanos do que dos Estados Unidos, literalmente, podendo sofrer avarias neste jogo de cartas marcadas na decisão de quem vai governar ou cair.