Democracia autocrática

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Imagem Estadão/Wilton Junior – O governo brasileiro reduz a participação da sociedade civil nas políticas públicas, com extinção de parte dos conselhos federais. Uma visão que se aproxima da ideologia de governabilidade autocrática.

Depois dos 100 dias do atual governo é possível acreditar que está instalado no Brasil uma administração muito próxima da autocrática. Há uma figura centrada do presidente e ministros escolhidos por sua determinação e não exatamente pela competência. Neste caso, Bolsonaro tem um critério, nomes que sejam radicalmente contra qualquer coisa com viés que se aproxime do chamado marxismo cultural, uma espécie de moinho de vento, para dar suporte a uma aventura e propaganda na defesa de governo centralizado.

Esta por certo seria a razão da anunciada redução ou extinção de conselhos federais, os quais têm como função permitir a participação da sociedade civil nas políticas públicas, que, com muito esforço pode-se chegar a singular ideias de grupos de esquerda. Na realidade é uma forma de fazer política sem passar pelo crivo social, apenas na filosofia de quem está no comando de uma nação, a maior e com grande importância na América Latina.

Como isto pode dar certo? Uma pergunta que cabe à própria sociedade civil, que na sua maioria apostou nesta característica de governo, com atenção no próprio bem-estar, considerando a violência nas ruas e instabilidade econômica. Há muita razoabilidade na atitude, no entanto, faltou analisar com mais cautela as razões da violência e instabilidade econômica.

O setor financeiro, com grande capacidade de interferência no Congresso Nacional e na eleição presidencial fez contas na sua racionalidade. Com um ministro radicalmente neoliberal, mesmo que haja um governo que descabe para o desgovernado é possível fazer a produtividade crescer para mais exportações e lucros, para um país sem fronteiras com o comércio internacional e menos burocracia para o trabalho, em favor do capital.

Nem seria sem razão que grandes empresários do comércio e agronegócio investiram “pesado” nas últimas eleições em candidaturas para além da presidencial.

Resta ainda as novas estratégias externas, com disputa fortíssima envolvendo Estados Unidos e China, com participação efetiva na política brasileira, com olhos grandes na hegemonia externa na América Latina. Para tanto, a semente do neoliberalismo está plantada na região por décadas, com centralidade político-econômica no Chile, de Augusto Pinochet, e Colômbia de Álvaro Uribe.

Como se nota, governo autocrático encontra solo fértil e deverá seguir avante com o olhar duvidoso e pouco participativo de amplos segmentos da sociedade civil. Contudo, o tempo não para.

Autor: Antonio S. Silva

Jornalista, doutor pela UnB e professor da (UFMT, com mestrado pela PUC/SP e Docente no curso de Jornalismo da UFMT. Em essência, acreditamos que é necessário o diálogo para construirmos, democraticamente, um país melhor.

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